Sunday, April 1, 2007

Artigo publicado no Jornal de Estarreja de 9/3/2007

A todos os foliões do nosso carnaval, a todos, sem excepção, sejam elementos dos grupos apeados, sejam dos grupos de samba. Para todos um grande abraço fraterno, companheiro, amigo. Andamos nisto há alguns anos e partilhamos as mesmas esperanças e os mesmos desencantos, convivemos como iguais nas festas, nos bares, nos desfiles, convivemos sem que ninguém questione ninguém sobre posicionamentos políticos ou outros, esbatendo-se desigualdades sociais e as diferenças de idade numa comunhão invulgar de objectivos, de partilha duma identidade, de alegria e de cultura. Talvez por isso mesmo quando um grupo se apercebe que o seu conjunto vai perder (os alcatruzes da nora não andam sempre por cima) dá na mesma o seu melhor nos desfiles. Uma vez e outra porque, na verdade, esteve lá, empenhou-se, fez parte da festa, foram – perdendo ou ganhando – parte de um todo e por isso devem ser sempre honrados pelos demais, acarinhados por todos, companheiros de folia ou público, sobretudo o público que embora pague deve ainda a todos nós carinho e aplauso.

Somos assim nos Xateados, temos a filosofia que estas linhas sugerem. E por isso temos sempre a porta aberta a toda a gente. Todos os anos, quando estamos em pleno labor, recebemos a visita de elementos de outros grupos, de curiosos, de amigos, de gente de qualquer parte. E temos para todos um copo, uma cerveja, um pouco de atenção. Nada escondemos e jamais tivemos qualquer visita por hostil. E mais queríamos ter: insistentemente apelamos à RVR para que viesse ver, fazer entrevistas, para que à distância criasse nos microfones da rádio a ambiência do carnaval, para que conversasse com os grupos. Nada colhemos apesar da insistência mas confiamos ainda. A seu tempo o nosso portão (penso que o de todos também) voltará a estar aberto, franqueado…

E por sermos assim nos magoa a leviandade de opiniões que, sem inocência nenhuma, começaram a ser espalhadas no domingo e posteriormente postas com fel na inter net sob a forma de blog, anónimo, encapuzado. Ora eu sou dum tempo em que, quando se desconhecia a paternidade se inscrevia a designação de “ pai incógnito” ficando sempre subentendida a promiscuidade da mãe. Fico pois com imensa pena de gente assim. Mesmo que não se tenha apelido há-de haver ao menos um nome próprio já que até os cães o têm, salvo os vadios ou os que andam na vida com o cadeado a zorro.

Dizem que compramos em Ovar umas mesas com que ganhamos em Estarreja. É verdade. Dava-nos jeito para o que tínhamos em mente e compramos. E pagamos. Só que depois recriamos com essas mesas a nossa fantasia, absolutamente dissemelhante. Uma câmara de ar comprada em segunda mão pode ser utilizada de novo num pneu mas pode ser utilizada, p.ex., como bóia de água… Não, não sentimos na reutilização dessas mesas estar a practicar quaisquer plágio nem o público ou o júri assim o entendeu…Quanto a este ano, elaboramos o nosso número de raiz. Quem nos visitou bem o sabe. E foram muitos havendo pessoas da Comissão, da imprensa… Não era novidade o tema? E depois? Tratá-mo-lo como pudemos, com a criatividade que temos, com os recursos que temos. O grupo Zsa Zsa’s, por exemplo, levou este ano um tema já explorado ( e excelentemente, diga-se, sendo premiado na altura) pelos Cebolinhas, que nada tinha de original, portanto, e nada temos a dizer. Fizeram-no à sua maneira e o público foi sensível à sua prestação, como, de resto, também o foi à nossa ou de todos os outros, o público que é daqui e de outros lados, perfeitamente anónimo e volátil. Não vale pois a pena andar por aí gente a tentar assar carapaus fritos. Conhecemos a canção de muitas eleições políticas realizadas no país e de muitos jogos de futebol: os derrotados têm sempre um discurso de vitória na hora da contagem das favas… Mas não lhes fica bem o estrabismo e a falta de chá. A humildade e o respeito devem-se cultivar em todas as idades.

Há três anos (quando fomos de madeirenses) ficamos em 6º. Deram-nos Zero ao carro. Nem um pontinho ao menos para os pregos, para o trabalho… E não houve por parte de qualquer elemento do nosso grupo qualquer artigo de donzela mal desflorada contra quem nos tinha suplantado. Tivemos, isso sim, a casa cheia, comemos, bebemos e confraternizamos pela noite fora e, quando chegou a hora, voltamos a trabalhar com o mesmo empenho para esta festa que é de todos.

Mas é isto, amigos, há sempre um miguel-de-vasconcelos que se esconde em armário que não se presumia e temos que viver com isto. Paciência. Resta-me, para terminar, brindar os nossos queridos detractores com uma inconfidência: as meninas foram contratadas no Furadouro e em Válega. A domadora é excelente para as feras que se atreverem e a outra será, sem dúvida, surpreendente nas mãos de qualquer bom mágico que a saiba fazer emergir da cartola…

Encontrar-nos-emos para o ano com a mesma chama e a mesma vontade de servir o nosso carnaval. Até lá um grande abraço amigo dos vossos companheiros,
Xateados
(texto elaborado em nome de todos pelo elemento Paulo Silva)

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